É difícil falar de mercado de emprego sem falar de macroeconomia. No final de julho, dizíamos que o mês tinha sido muito fraco em contratações para média e alta gerência, e que agosto deveria melhorar. E realmente melhorou bastante.

O volume de contratações está forte a partir de agosto na indústria de transformação em quase todos os segmentos, principalmente bens não duráveis, materiais rodantes, alimentos, cosméticos e toda a cadeia de ingredientes e insumos em geral, autopeças e importações.

Até os segmentos de bens semiduráveis e automotivo estão surpreendendo positivamente com crescimento de dois dígitos, coisa inédita. No entanto isso também traz mais importações, igualmente de dois dígitos. Mais importação, dólar alto, maior custo para insumos, descontrole de gastos públicos, rombo fiscal e, consequentemente, inflação. É a roda da economia.

Estamos gerando aumento da arrecadação federal? Sim, mais pelo aumento de impostos e gastos públicos (pagamento de precatórios, antecipação do décimo terceiro, aumento do bolsa família e contratações de comissionados nas prefeituras). Mais déficit público, mais inflação. É a roda da economia.

O governo estimula o consumo das famílias, mas tira com a outra mão gerando mais impostos e gastos públicos. Importações crescendo, exportações caindo e déficit público alarmante. Já vimos esse filme.

Voltando ao circo, a grande vedete é o crescimento do PIB de 1,4 % no segundo trimestre, taxa de desemprego caindo, salário médio subindo. Contudo, é um crescimento movido pelo consumo e injeção de dinheiro em benefícios sociais, e não por investimentos estruturantes (estamos investindo só 16 % do PIB, isso é recessivo e já falamos no artigo passado). O aumento do poder de compra com déficit público alto gera inflação que corrói o ganho salarial, ou seja, é crescimento ilusório. É a roda da economia, também já vimos este filme.

Dito isso, aumentou a competição nas empresas por market share, gerando novas contratações para média e alta gerência nas áreas de Logística de e-commerce, Vendas e Marketing, além de contratações nas áreas de Supply Chain e Importação.

O volume de contratações neste nicho cresceu 53 % em agosto em relação à média mensal do primeiro semestre. Esse ritmo está se mantendo em setembro, e deveremos ter o último quadrimestre com avanço na procura por profissionais na indústria de transformação, desenvolvimento e lançamento de produtos de consumo não duráveis e semiduráveis. Este final de ano será bem melhor para as vendas do varejo.

Pela primeira vez em anos, o agro não está empurrando o PIB para cima. De qualquer forma as contratações ocorrem principalmente de Minas Gerais pra baixo, principalmente na indústria paulista, que detém 50 % das contratações do país inteiro, indústria, comércio e serviços. São Paulo crescerá mais que o dobro do PIB médio do Brasil. Isso já vem se mantendo desde o início do ano. São Paulo e os Estados do Sul / Sudeste fazem a locomotiva deste ano.

No Interior de São Paulo e sul do país faltam diretores e gerentes industriais e supply chain, gerentes de transporte e logística, profissionais de varejo / e-commerce, CFO, Diretores de Vendas e Marketing e perfis LATAM.
Equipamentos de geração de energia são um caso à parte, somam-se à demanda por equipamentos de mineração crescendo acima da média do segmento de consumo, o que também é inédito. Fabricantes de transformadores, compressores, equipamentos de transmissão e geração de energia estão em alta e contratando.

O mercado agro, menos etanol, está sendo o “patinho feio” nesse segundo semestre, fruto da estiagem, crise climática, preços das commodities em baixa, adiando exportações de grãos e alimentando o mercado de milho e outras oleaginosas na produção de etanol. Infelizmente é hora de colheita, e as plantações estão pegando fogo. É muito azar.

Para quem quer mudar de emprego, essa é a hora. Para as empresas que buscam novos profissionais o custo aumentará, seja na remuneração ou na seleção, via contratação de headhunters. Muitas empresas de headhunter acabaram de chegar ao país. Bom sinal.

A continuidade dessa política desastrosa mostra a falta de planejamento de longo prazo para o país, a felicidade só interessa no aqui e agora. Que seja.