
O peso da idade na contratação para alta gerência. Parte II
7 de julho de 2025Um tema que está em alta (permanentemente) é o mercado de trabalho da alta gestão. Por isso, para dar continuidade a esse projeto de entrevistas com profissionais de referência em suas áreas de atuação, fui conversar com o ADILSON MIRANTE. Além de amigo, o Adilson é Sócio Fundador da M1 Recolocação de Alta Gerência e Conselheiro na Best Alliance.
Tendo trabalhado como Executivo de RH em diversas multinacionais, hoje o Adilson emprega toda sua experiência no apoio, preparação, mentoria e reposicionamento de profissionais da alta gestão no mercado.
A entrevista está imperdível, pois além de falar sobre o mercado de trabalho, o Adilson dá dicas valiosas para os profissionais que estão nesse nível de atuação profissional.
Boa Leitura, forte abraço!
1. Adilson, você sempre atuou como alta liderança na área de Recursos Humanos de grandes empresas. Poderia nos contar um pouco dessa sua trajetória?
Venho de uma carreira meteórica na área executiva de RH passando por 5 grandes multinacionais, montando políticas de RH em 10 fábricas e startups de indústrias em várias regiões, um grupo francês, outro alemão, brasileiro, americano e chileno, mas em 1993 montei uma das primeiras empresas de recolocação do Brasil e no mundo, sendo a primeira no interior de São Paulo, quando esse serviço ainda era desconhecido a não ser no mercado automotivo, que se transferia rapidamente para o interior de São Paulo. Montei uma metodologia de recolocação inédita, indicando os profissionais para vagas, ou seja, para empresas e headhunters. Ninguém procurava emprego assim.
Isso gerou uma eficiência de recolocados maior que a concorrência. Era um produto impactante, nós procurávamos a vaga para o profissional, porque naquela época todos procuravam emprego somente nos jornais. Com isso nos transformamos na maior empresa de recolocação do país.
E depois de alguns anos, percebi que a maioria de meus clientes voltavam. Hoje, a aqueles jovens executivos são diretores de empresas globais e gerentes gerais de organizações de todos os segmentos. Assim mantenho contato com eles e me especializei em cargos de alta gerência. Atualmente 50 % de nossos contratos são ex-clientes e 30 % fizeram a carreira toda conosco, voltam sempre a contratar nossos serviços, como pessoa física ou pessoa jurídica. Nem temos área comercial, só atendemos quem nos conhece ou nos indicam amigos e parentes. Isso gera uma corrente muito forte porque vendemos credibilidade, num mundo cheio de armadilhas e compras por internet sem vínculo emocional algum.
2. Após tanta experiência adquirida no mundo corporativo, em empresas nacionais e internacionais, você decidiu ajudar as pessoas com uma consultoria direcionada à só alta gerência? Nos conte um pouco sobre projeto.
Como eu disse, hoje somos procurados, e quem nos contrata quer alguém sênior para conduzir sua transição, um mentoring que já passou por isso. Quando vão ao mercado, muitas vezes ainda estão trabalhando, são casos confidenciais que requerem uma estratégia de busca diferenciada, são cargos de abrangência internacional, complexos, que requerem muita maturidade de quem assessora, suporte técnico e emocional especialíssimo, planejamento e cuidado em cada passo.
Quem nos procura não querem só buscar novo emprego, mas mudar de carreira, ter apoio em processos de exaustão emocional, querem redirecionar trajetórias mal-sucedidas por motivos pessoais e organizacionais. E consequentemente acabamos fazendo projetos para os filhos desses executivos também, pela confiança que depositam na nossa seriedade, comprometimento e acompanhamento desses jovens na tomada de decisão profissional futura.
3. O que você enxerga de grandes diferenças na relação entre empresas e funcionários, comparando a época em que você estava no mundo corporativo e os dias atuais?
As diferenças são absolutas, até a década de 90 as pessoas ficavam a vida toda na mesma empresa, cresciam pelo tempo de casa. O faturamento das empresas era fechado e ninguém era cobrado por resultados. Aqueles que davam resultado por intuição e liderança natural, cresciam mais, se destacavam. Eu me tornei Diretor de RH com 29 anos, depois de iniciar na Danone, onde fique 6 anos e tive 6 promoções. Eu era Gerente Sênior e pedi demissão, coisa impensável na época, a empresa não acreditou, mas eu não tinha nascido para ficar a vida inteira na mesma empresa. Eu era a geração z da época.
4. Em 2017, entrou em vigor a lei que modificou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), flexibilizando as relações de trabalho. Passados mais de 7 anos desde o início da vigência dessa lei, o que você enxerga de avanços positivos nessas relações?
Na minha visão mudou muito e para melhor, caíram as demandas em 50 % e a força dos sindicatos, as demandas trabalhistas, a relação ficou mais madura entre as partes, quem perde a demanda trabalhista que pague as custas, o que amadureceu a relação entre empregados e empregadores. Hoje os empregados são mais conscientes e cobram para ter mais segurança e ambiente saudável nas relações, seja nas fábricas ou escritórios. Cobram isso. Mas ainda tem muita coisa para mudar na CLT e a principal seria acabar com a CLT, somos o único caso no mundo que tem legislação de proteção ao contrato de trabalho e tribunais de justiça do trabalho. Assim somos reféns de proteção, isso atrapalha o crescimento negocial entre as partes. Somos o país dos direitos, mas não dos deveres. Isso está na nossa Constituição de 1988. É muito arcaico. Pesquisa de maio de 2025 mostra que a Justiça do trabalho desconsiderou a cobrança para quem perde a ação e as demandas trabalhistas voltaram a crescer 50 %. O sistema luta para manter o sistema.
5. Como você avalia o nível da formação e qualificação dos profissionais brasileiros da alta gestão? Quais áreas você considera mais carentes em nosso país?
No segmento de produtos seriados metalúrgicos, automotivo, agronegócios, alimentos e equipamentos rodantes, ônibus e caminhões, equipamentos agrícolas e minerais, temos os melhores profissionais do mundo, pois estão no mesmo nível de tecnologia de manufatura das empresas globais com planta no Brasil, e ainda trabalham sob mais pressão e têm mais criatividade, porque o ambiente econômico no Brasil é muito mais complexo e desafiador, nossas leis de proteção e complexidade tributária dificultam sobremaneira e exigem mais. As áreas mais carentes de formação gerencial são aquelas onde a produção no Brasil não tem concorrência internacional forte, como Construção Civil, Cerâmica, Comércio e Varejo Regional e de forma geral toda pequena indústria até 100 funcionários longe de grandes centros metropolitanos, onde está a maior parte da mão-de-obra industrial, comercial e varejista. O Brasil é um continente.
6. A economia brasileira sempre teve ciclos de oscilações, com momentos em alta e outros em baixa. Isso sempre impactou diretamente na taxa de desemprego da população. Como você avalia o momento atual do mercado de trabalho e em que direção você acredita que estamos seguindo para os próximos anos?
Estamos numa encruzilhada, hoje os jovens tem outras fontes de renda que simplesmente arrumar um emprego com carteira assinada mesmo em empresa multinacional e demorar 20 anos para chegar num cargo gerencial ou de diretoria. As demandas dos jovens são imediatistas, mais urgentes, e o empreendedorismo aumentou muito. O problema é que a maioria não foi educado pela família e pela Escola para ser dono do próprio negócio, não tem perfil empreendedor. E quebram a cara em várias tentativas, e depois desistem. O sucesso só é conseguido pela minoria que não desiste. Estamos formando gerações de pessoas limitadas porque imediatistas, não sabem que o sucesso exige sacrifícios. Isso é uma incongruência, pois as pessoas terão mais longevidade e ao mesmo tempo são mais imediatistas.
7. Para os profissionais que estão se preparando para entrar no mercado de trabalho, quais áreas você avalia que estarão em alta nos próximos anos?
Todas as áreas de Engenharia, medicina, agronomia, tecnologia de hardware e software, IA. Difícil citar todas, mas até cargos técnicos terão demanda forte, um soldador especializado ganha muito bem hoje, um operador de trator agrícola e uma enfermeira padrão também. As áreas de saúde, agrícola, mineral, energia renovável, produção de recicláveis de forma geral e tecnologia de hardware e software acredito serem as mais promissoras para qualquer cargo. Mas nossa vocação está no agro, na produção agrícola e mineral, na saúde animal e humana.
8. Adilson, vamos tratar agora de temas mais críticos. Estamos na era da Quarta Revolução Industrial (Indústria 4.0), na qual a tecnologia digital vem sendo utilizada para otimizar processos empresariais. Muito tem se falado sobre o avanço acelerado no p da tecnologia, especialmente com a Inteligência Artificial. Como você avalia o impacto dessas mudanças para os postos de trabalho no mercado brasileiro?
As fábricas modernas utilizam a robotização e automação de processos de forma intensa, combinando inteligência artificial com machine learning e big data, gerando ganhos em eficiência, rapidez, redução de custos e manutenção. O impacto é maior no Brasil, quinto maior país do mundo, pois nossa população em idade produtiva é 50 % semianalfabeta, não estudam, não leem, estão isolados da modernidade tecnológica pela deficiência de nosso modelo educacional. Não sabem escrever, são analfabetos na geografia e na economia financeira, não tem raciocínio lógico, e nossos jovens não são educados para fazerem o certo mas para buscarem o ganho fácil, muitas vezes fora da lei. Isso gera uma sociedade de malandros, sem ética, a economia subterrânea. Horrível. O país atrasa sua inclusão tecnológica e fica refém de proteção de lobbys políticos. Mas temos dois Brasis, o de primeiro mundo nas regiões sul, sudeste e centro oeste e o outro, rico de minerais e solo fértil, mas vivendo no tempo das capitanias hereditárias no norte nordeste.
9. Se você pudesse dar conselhos aos profissionais que estão preocupados com termos como Computação em Nuvem, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), robótica, Big Data e Machine learning, entre outras, quais seriam esses conselhos?
Simplesmente, aconselho 3 coisas: estudem, estudem e estudem, não há outra porta para a sobrevivência e o sucesso. O tempo está acabando para os 50 % da população que falamos há pouco.
10. Profissionais de primeiro emprego e profissionais com mais de 50 anos. Mito ou realidade que, no Brasil, há uma enorme dificuldade desses profissionais se inserirem no mercado de trabalho? Como minimizar essa dificuldade?
Os jovens, 60 % são analfabetos funcionais, não tem saída, não geram riqueza, não pagam impostos, são presas fáceis do subemprego e do crime. Os mais seniores precisam, 50 % estão se atualizando, hoje recolocamos executivos com até 65 anos sem problema, porque continuam estudando, são determinados, otimistas, vendem experiência e são respeitados. Isso é irreversível, vamos valorizar cada vez mais os profissionais de maior idade desde que inseridos nas novas tecnologias, na economia mundial. Serão a maioria da população nos próximos 20 anos no Brasil.
11. Em relação aos profissionais brasileiros de alta gerência, nosso país mais importa ou mais exporta os grandes executivos para as maiores empresas?
Exportamos muito mais entre os escolarizados. Somos uma grande população e formadores de executivos de ponta, lá fora são reconhecidos, como já falamos há pouco. E nossos profissionais buscam a experiência internacional porque ganham mais nos países desenvolvidos, buscam segurança e previsibilidade. Nossos pesquisadores quando se destacam são mais reconhecidos lá fora. Nossos ídolos nunca foram nossos cientistas, aqui não são manchete e nem valorizados.
12. Adilson, quais as principais diferenças dos profissionais que atuam com os processos de consultoria, mentoria e headhunter?
Os profissionais de consultoria de carreira e mentoria são parecidos, ajudam as pessoas a decidirem O QUE fazer, a tomarem decisões corretas baseadas em dados, procurar empresas e não emprego, desafios e não salário. Isso requer construção de imagem corporativa e não somente trabalhar doze horas por dia. Somos péssimos em Marketing Pessoal. Esses profissionais fornecem suporte para que o executivo encontre a melhor estrada profissional.
O Headhunter por sua vez é um coaching, ensina COMO fazer, procura ensinar as empresas a contratar, como definir cargo, como procurar, como selecionar, como escolher e como as partes devem negociar. Requer conhecimento profundo das cadeias produtivas globais em todos os segmentos. Direcionam as empresas e os executivos na estrada da economia.
13. Para os executivos e profissionais de alta gerência que estão em busca de recolocação no mercado de trabalho, quais recomendações são essenciais para o sucesso nesse processo de retorno ao mercado de trabalho?
O único profissional que não consigo recolocar é aquele sem auto estima, de mal com a vida, o pessimista, que desiste fácil, que reclama de tudo e culpa os outros pelo seu insucesso pessoal e profissional. Tomam decisões erradas sempre, porque são decisões emocionais. São vitimistas, sempre perdem dinheiro e vivem endividados.
Por outro lado, aqueles que estudam constantemente são otimistas, evoluem na carreira, sempre mentalizam o que farão antes de fazer, planejam como fazer e sabem onde querem chegar, tem auto estima e maturidade, se aconselham com os mais experientes, tomam decisões pragmáticas, gastam menos do que ganham, criam patrimônio para si e lucro para a empresa, são pessoas determinadas, disciplinadas e ousadas.
14. No momento atual do mercado de trabalho, quais habilidades são mais valorizadas pelas grandes empresas, quando olhamos para os profissionais de alta gerência?
Resiliência e determinação são fundamentais, trabalhar sob pressão, gerar resultados, dividir a vida pessoal e profissional com equilíbrio, persistir e nunca desistir, não se acomodar e formar pessoas, ninguém cresce sozinho.
15. Adilson, fique à vontade para suas considerações finais e para nos explicar um pouco do trabalho da sua consultoria M1 Alta Gerência.
Agradeço pela oportunidade e quero dizer que a M1 é uma boutique de alta gerência que vende Planejamento de Carreira, filosofia de vida, tecnologia existencial. Construímos e reconstruímos vidas, essa é nossa essência.